Quando eu morri em dezembro de 1972
Esperava ressucitar e juntar os pedaços
da minha cabeça um tempo depois
Um psiquiatra disse que eu me esforçasse
e forçasse a barra pra voltar à vida
E eu parei de tomar ácido lisérgico e fiquei quieto
lambendo a minha própria ferida
Sem saber se era crime ou castigo
ou se tinha outro cordão no meu umbigo
pra de novo arrebentar
Pois eu fui puxado a ferro
arrancado do útero materno
e apanhei pra poder chorar
Quando eu morri vi Jimi Hendrix
tocando nuvens distorcidas
Eu nem consegui falar
E depois, por um momento,
o céu virou um fragmento do inferno em que eu tive de entrar
Eu sentia tanto medo
só queria dormir cedo
pra noite passar depressa e não poder me agarrar
Noites de garras de aço me cortavam em mil pedaços
e no outro dia eu tinha de me remendar
Mas se a vida pede a morte,
talvez seja muita sorte eu ainda estar aqui
E a cada beijo do desejo
eu me entorpeço e me esqueço de tudo o que eu ainda não entendi
(Marcelo Nova - A panela do diabo)